A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira, um requerimento para que seja discutido o “jogo da Baleia Azul“, fenômeno que consiste em uma série de desafios com o objetivo de levar jovens ao suicídio.
Proposta pelo deputado Sandro Alex (PSD-PR), a reunião ainda não tem
data, mas ocorrerá na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCTI).
Uma
pesquisa, elaborada pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias da
Informação e Comunicação (Cetic), apontou que um a cada dez adolescentes
brasileiros, de onze a dezessete anos, já procurou informações na
internet sobre como se ferir – e um a cada 20, sobre como tirar a própria vida. Até
agora, oito estados brasileiros (SP, PR, MG, MT, PE, PB, RJ e SC) já
tiveram alertas policiais e de saúde relacionados ao “baleia azul“.
O encontro realizado pela Câmara deve ouvir representantes do Facebook –
onde o fenômeno tem sido mais verificado no Brasil –, da Polícia
Federal e da Unicef, além do youtuber Felipe Neto, que fez um vídeo sobre o assunto em seu canal.
O
maior número de casos registrado até agora, envolvendo o “jogo”, é na
Paraíba, onde a Polícia Militar diz ter identificado 20 adolescentes
envolvidos. O coronel Arnaldo Sobrinho, coordenador do Escritório
Brasileiro da Associação Internacional de Prevenção ao Crime
Cibernético, relatou tentativas de suicídio e mutilação de adolescentes
em João Pessoa e nas cidades de Campina Grande e Guarabira.
Em Bauru
(SP), um jovem tentou se jogar do viaduto sobre a Rodovia Marechal
Rondon, após publicar nas redes sociais a frase “a culpa é da baleia“.
O Paraná registrou a entrada de oito adolescentes entre treze e dezessete anos
(quatro meninos e quatro meninas), na madrugada de quarta-feira, nas
unidades de saúde de Curitiba – cinco por tentativa de suicídio por
medicamentos e três por automutilação.
O secretário estadual de
Segurança Pública, Wagner Mesquita, afirmou que um dos jovens relatou a
participação no jogo.
“Nossa investigação vai em busca dos responsáveis para enquadrá-los por incitação ao suicídio“,
disse o secretário. O crime, previsto no artigo 122 do Código Penal,
tem pena de dois a seis anos de reclusão. “Vamos trocar informações com
outros estados”, concluiu.
O “jogo” da Baleia Azul
Associada
ao “baleia azul”, a palavra “jogo” não representa, de fato, o que
significa o fenômeno.
Participantes conhecidos como “curadores”
induziriam, através de conversas pela internet, adolescentes vulneráveis
a realizarem tarefas, como automutilação, durante um período de 50 dias, que se encerraria com o suicídio.
Essa
prática teria se iniciado nas redes sociais da Rússia, com as primeiras
informações sobre ela surgindo a partir de 2015. A princípio, foi vista
como uma “notícia falsa” e um possível viral, mas ganhou corpo com o
número de casos já identificados no Brasil e em países como Espanha e
França.
Segundo Alexandrina Meleiro, da Comissão de Prevenção ao Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP),
a adolescência é uma “fase de descoberta e insegurança, deixando muitos
vulneráveis”.
Para ela, os principais sintomas que devem chamar a
atenção de pais são mudanças de comportamento, isolamento e uso de
roupas “que tapam o corpo mesmo em dias quentes”, além da baixa
autoestima.
A especialista recomenda que os pais evitem “acusar ou
mexer nas coisas sem autorização” e que tentem abrir um canal de
diálogo com os filhos.
“O jovem costuma aceitar a aproximação se houver
confiança”, conclui.
(Com Estadão Conteúdo)
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