Memórias
específicas poderiam ser selecionadas e apagadas sem afetar as demais,
indica um estudo publicado na última semana no periódico Current Biology. Induzindo diferentes tipos de lembranças a partir de neurônios
de um caracol, os cientistas perceberam que a força das conexões em
memórias associativas (aquelas que estão ligadas a uma resposta ou
comportamento) e não associativas (aquelas que aprendemos sem perceber) é
mantida por formas diferentes da mesma proteína e, portanto, podem ser
bloqueadas seletivamente.
Essa descoberta sugere que, no futuro,
seria possível desenvolver medicamentos para “deletar” memórias que
desencadeiem ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático, sem
interferir em outras memórias importantes de eventos passados. “Um foco
de nossa pesquisa é desenvolver estratégias para eliminar memórias não
associativas problemáticas que podem ser carimbadas no cérebro durante
uma experiência traumática sem prejudicar memórias associativas”, diz em
comunicado o professor de neurociência Samuel Schacher, do Centro
Médico da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
“O exemplo
que gosto de dar é: se você estiver caminhando em uma área de alta
incidência de crime e pegar um atalho através de um beco escuro, e então
ver uma caixa de correio nas proximidades, você pode ficar nervoso
quando quiser enviar algo [por correio] mais tarde”, Schacher explica.
No exemplo, o medo de becos sombrios é uma memória associativa que
fornece informações importantes – por exemplo, que becos escuros podem
ser perigosos – com base em uma experiência anterior, da própria pessoa
ou de outras. O medo das caixas de correio, no entanto, é uma memória
incidental, não associativa, que não está diretamente relacionada ao
evento traumático, mas que pode desencadear uma sensação estressante
sempre que a lembrança for resgatada.
Memórias
O
cérebro cria memórias a longo-prazo fortalecendo as conexões entre os
neurônios e mantendo-as com o passar do tempo. Estudos anteriores
sugeriram que o aumento na força das sinapses – essas conexões entre as
células neurais – compartilha propriedades muito parecidas em memórias
associativas e não associativas.
Por isso, eliminar seletivamente alguma
lembrança seria praticamente impossível, pois, para qualquer neurônio, o
mesmo mecanismo seria responsável por manter todas as formas de
memória.
O objetivo do estudo desenvolvido por Schacher e sua
equipe era testar essa teoria, estimulando dois neurônios sensoriais
extraídos de um mesmo neurônio motor de um caracol, pertencente ao
gênero Aplysia.
Um dos neurônios sensoriais foi estimulado para
induzir uma memória associativa e outro para resgatar uma memória não
associativa.
Ao medir a força entre as conexões, os pesquisadores
perceberam que elas eram mantidas por formas diferentes da mesma enzima,
a proteína quinase M (PKM, na sigla em inglês).
Assim, eles descobriram
que, ao bloquear uma das proteínas, a memória que normalmente seria
ativada poderia ser apagada sem que a outra sofresse qualquer alteração.
Além
disso, eles descobriram que memórias sinápticas específicas também
podem ser apagadas bloqueando a função de outras moléculas que ajudem a
produzir PKMs ou protejam as enzimas de serem quebradas.
Segundo
os pesquisadores, os vertebrados possuem versões semelhantes das
proteínas PKM encontradas nos caracóis, que participam da formação de
memórias de longo prazo. Por isso, o estudo poderia, no futuro, ser
aplicado também à memória humana.
Fonte VEJA.com
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