Há dez anos, o primeiro dia de aula é sempre igual para o professor
José Tiago França. Os pais chegam para deixar seus filhos na escola e
estranham que será um homem o responsável pela educação e os cuidados
com as crianças de 2 anos. Apesar de ter crescido a presença masculina
entre professores de creche e de pré-escola (de zero a 5 anos), ela
ainda é bem pequena. Em todo o País, dos mais de 575 mil docentes dessa
etapa, apenas 3,7% são homens - há sete anos, eram 2,8% do total,
segundo o Censo Escolar.
“Meu primeiro contato em sala foi
surreal. As mães chegaram às 7 horas e, quando me viram, vieram todas
juntas perguntar se era eu o professor. Para elas, era muito estranho
ter um homem cuidando de bebês”, conta França, de 32 anos, que é hoje
responsável por uma turma de crianças de 2 anos no Centro Social Marista
Robru, em São Miguel Paulista, na zona leste da capital.
Segundo
França, ainda hoje sua presença causa estranhamento, mas ele já se
acostumou e aprendeu a lidar com a situação. “Na Pedagogia, dos 120
(alunos) da turma, havia apenas eu e outro homem. Isso nunca me
incomodou porque tinha muita vontade de trabalhar com crianças. Mas
sempre ouvi comentários preconceituosos, até mesmo de colegas de
classe.”
A presença masculina nos cursos de Pedagogia também
continua pequena. Jaime Fontes, de 32 anos, é um dos três homens de uma
turma de 40 alunos do 2.º ano da graduação no Instituto Singularidades,
em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
“É uma questão cultural e
esse padrão começa a ser rompido, mesmo que lentamente. É esperado que,
se o homem quer ser professor, trabalhe com adolescentes ou procure
cargos de chefia. Não acham que o homem possa cuidar de crianças”.
O
professor do Colégio Ítalo-Brasileiro, Carlos Eduardo da Silva, tem 55
anos - 34 deles na educação infantil e nos anos iniciais do fundamental
(1.º ao 5.º ano). Para ele, o preconceito se deve a uma visão equivocada
dessas etapas de ensino. “O estranhamento ocorre, em parte, por acharem
que, na creche ou pré-escola, a criança vai somente para ser cuidada e
não para aprender. A outra parte é por acharem que só uma mulher sabe
cuidar, ser carinhosa.”
Hoje, Silva é professor do 2.º ano (alunos
de 7 anos) e diz que, a cada nova turma, conversa com os pais para
ganhar a confiança. “Brinco muito com as crianças, pego no colo. Muita
gente ainda estranha essa atitude vinda de um homem. Por isso, peço que,
se alguém se incomodar, que me avise, porque eu respeitarei. Foram
poucos os casos em que os pais pediram.”
Números
A
participação dos homens no magistério é maior conforme o avanço das
etapas de ensino. Segundo o Censo Escolar 2016, na creche (de 0 a 3
anos), eles somam 2,3% do total de docentes. Na pré-escola (4 e 5 anos),
são 4,8 %. Nos anos iniciais do fundamental, a taxa é de 10,7% e nos
finais (do 6.º ao 9.º ano) o índice salta para quase um terço (30,4%) do
total.
O último estudo da Organização para Cooperação do
Desenvolvimento Econômico(OCDE) mostrou que, dos 41 países analisados em
2015, 8 em cada 10 professores da pré-escola e dos anos iniciais do
fundamental eram mulheres. O relatório diz que a atuação dos homens
contribui para que as crianças desenvolvam uma identidade positiva sobre
gênero.
Fonte MSN
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