Pesquisadores da Universidade de São Paulo
(USP), integrantes da força-tarefa criada em dezembro para investigar o
zika vírus e sua relação com o aumento dos casos de microcefalia no
País, afirmaram nesta sexta-feira, 8 que, embora não haja comprovação
que a doença tenha se espalhado pelo Estado de São Paulo, é preciso se
preparar para um cenário epidêmico entre os meses de março e abril,
quando a população de mosquitos Aedes aegypti atinge seu pico.
“O
que vai acontecer, eu não sei, mas estamos nos preparando para um surto
massivo nesse verão”, disse Paolo Zanotto, virologista do Instituto de
Ciências Biomédicas (ICB) da USP e coordenador da força-tarefa, que tem
cerca de 300 pesquisadores e 40 laboratórios. Nesta sexta, o grupo
passou a contar com o reforço de cientistas do Instituto Pasteur de
Dacar, no Senegal, que trazem a experiência da atuação em diversos
surtos de doenças virais no mundo, entre elas o ebola.
Uma das
principais áreas de colaboração dos cientistas africanos é no
desenvolvimento de métodos mais precisos e rápidos de diagnóstico do
zika vírus. Entre as técnicas que estão sendo trabalhadas está um teste
rápido de detecção, como já existe para a dengue. “Já temos um protótipo
de teste rápido para o zika vírus, que também consegue detectar outros
vírus similares, como dengue e febre amarela, o que torna o diagnóstico
mais preciso. Pela nossa experiência em outros casos, o resultado desse
teste pode sair no período de 15 a 20 minutos”, explicou Amadou Sall,
diretor científico do Instituto Pasteur de Dacar e coordenador do grupo
de pesquisadores africanos no Brasil.
Ele explicou que os testes
rápidos podem ser muito importantes para o diagnóstico da doença em
regiões mais carentes do Brasil, como cidades do interior do Nordeste
que estão vivendo surtos de microcefalia. “Você pode ir a campo, a uma
pequena vila, por exemplo, permanecer o dia inteiro lá e submeter as
pessoas ao teste, sem precisar enviar as amostras a um laboratório
central. É possível fazer em qualquer lugar, mesmo onde não há
eletricidade”, disse ele.
Uma versão final do teste rápido, que
poderá ser desenvolvido em larga escala e comercialmente, no entanto,
pode demorar alguns meses para ser finalizado, segundo Sall.
Adicionar legenda |
Múltiplos fatores. Os
cientistas também avaliam a possibilidade de mais de um fator estar
associado ao aumento da microcefalia no Brasil. De acordo com Sall, o
fato de duas coisas estarem acontecendo ao mesmo tempo em um mesmo lugar
não significa que uma esteja causando a outra. E usou uma analogia
simples: “O fato de o galo cantar quando o Sol nasce não significa que é
o canto do galo que faz o Sol nascer”.
Mesmo a presença do vírus
no organismo de um bebê nascido com microcefalia não serve como uma
prova definitiva. “As coisas podem estar relacionadas, mas não é
necessariamente uma que causa a outra”, explica. É possível que haja
outros fatores envolvidos nos casos de microcefalia, como uma combinação
do zika com outros vírus ou fatores imunológicos ou genéticos dos
pacientes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário